terça-feira, 21 de abril de 2020

São Januário, meu caldeirão!

       Em 1926 nascia um dos maiores amores da minha vida, a minha avó materna (Dilminha para os íntimos) começava a sua história e se hoje eu estou aqui te escrevendo é também muito graças a ela. Nesse mesmo ano um outro grande amor da minha vida começava uma “gestação” ... o Club de Regatas Vasco da Gama colocava a sua primeira pedra no terreno onde hoje temos o exuberante estádio de São Januário.
       No dia 21 de abril de 1927 nosso caldeirão era inaugurado após muito suor do nosso torcedor. Nós bancamos a compra do terreno e do que mais foi necessário para que fosse erguido ali, na Zona Norte do Rio de Janeiro, longe do glamour da cidade maravilhosa e próximo a um povo mais pobre, o maior estádio do continente. Hoje, depois de 93 anos, continuamos sendo o maior estádio particular do estado do Rio de Janeiro.
       Pensando em o que escrever nesse texto, me deparei com algo curioso e meio inexplicável. Como o vascaíno(a) gosta de estar em São Januário, gosta sem nem perceber, gosta de graça. Não importa se o planeta evoluiu e os poderes governamentais do estado carioca “esqueceram” de desenvolver a mobilidade urbana naquela região, o vascaíno(a) só vai. Pode estar chovendo, transito infernal, pode ser depois de um dia imenso de trabalho ou as vésperas de uma reunião importante logo pela manhã seguinte, o torcedor vai, ela quer estar lá, alguns nem ingresso para entrar tem e ficam nos bares no entorno do estádio, mas estão lá. No ano passado lotamos o estádio em um jogo muito fraco, sem qualquer apelo (não me recordo exatamente qual), onde ainda tivemos resultado adverso e em um grupo uma pessoa falou: “Não era para lotar São Januário nesse jogo”, hoje eu entendo porque lotamos. Foi pelo Vasco e foi por São Januário também, os dois são um só, mistura homogênea e não existe mais a possibilidade de divisão.
       As minhas lembranças em São Janu são muito boas, já venci e já perdi e por muitas vezes (quase todas) cantei até ficar rouco, o que me deixa com uma sensação de dever cumprido. Conheci e fiz amizades que tenho comigo até hoje, levei meus familiares para sentirem o caldeirão ferver e abracei desconhecidos como se fossem da minha família para comemorar um gol, aliás, já tive o prazer de ver alguns golaços na Colina histórica também. Ganhei clássico de virada, tirei foto com ídolo, comi churrasquinho com farofa na porta do estádio, tomei banho de cerveja após um gol ou uma simples marcação de pênalti... como é bom ir a São Januário!
       Que a nossa casa se conserve para todo o sempre! Porque é um patrimônio da humanidade onde abriga e educa vários jovens, que foi o palco do discurso presidencial anunciando as primeiras leis em favor dos direitos dos trabalhadores brasileiros (não havia local mais perfeito do que a casa do time feito por operários e pobres) e o “teatro” onde reuniu 40.000 estudantes em um coral do maestro Heitor Villa-Lobos. Já servimos a nossa seleção Brasileira, inclusive a nossa maior goleada contra os Hermanos foi em São Januário (6x2). Foi eleito um dos 7 melhores estádios do mundo para se assistir uma partida de futebol e um dos 5 mais intimidadores, o que deixa a sua imensa torcida bem feliz e orgulhosa. Obrigado Deus por me proporcionar viver vários lindos momentos da vida em São Janu e por poder ajudar a continuar escrevendo a história mais bonita do futebol.
       Muitos dizem que o maior patrimônio de um time de futebol é a sua torcida e eu concordo, mas não seria loucura dizer que o maior patrimônio do Vasco é São Januário, ali está a síntese de tudo, torcida, clube e templo.